O que dói mais
Não sabiam o que doía mais, os pés ou a barriga. Também poderia ser a cabeça, mas a fome e o cansaço eram distrações fortes demais para sequer lembrar que havia uma cabeça. Não se lembravam qual a distância que haviam percorrido, ou quando tinha sido a última refeição razoavelmente satisfatória. Mas se lembravam dos que estavam ausentes: os que preferiram ficar e os que não resistiram à jornada. E as ausências, às vezes, doíam tanto quanto os pés ou a barriga.
“A história por trás da história”: Texto produzido em 19 de abril de 2023, na Oficina de Produção Literária, realizada durante a Semana da Comunicação da Universidade Vale do Rio Doce (Univale), onde eu trabalho. Muito embora fosse um evento para estudantes (de jornalismo, de publicidade e de design), eu fui na cara dura e participei, inclusive do exercício de produção textual com base em imagens distribuídas aleatoriamente. Essa, acima, foi a que eu recebi: “Os retirantes”, pintada por Portinari em 1944. Obrigado aos professores Deborah Vieira e Bob Villela, que gentilmente acolheram o penetra aqui.